quinta-feira, 26 de maio de 2011

KINGDOM OF DARKNESS: The Hobbesian Realm of Ignorance and Denial

O Sufrágio é aficcionado por televisão, fica hipnotizado diante da tela, e se a família deixar, passa o dia inteiro ali absorvendo conteúdos.


Seu programa preferido é em inglês e se chama KINGDOM OF DARKNESS: The Hobbesian Realm of Ignorance and Denial ("REINO DAS TREVAS: O Reino Hobbesiano da Ignorância e da Negação"). O nome do programa é inspirado (e não é, de forma alguma, uma descrição literal) da Parte IV do Leviatã de Thomas Hobbes, que descreve o Reino das Trevas como um âmbito de ignorância ligada à incapacidade de interpretação das escrituras sagradas cristãs. A observação deste aspecto do pensamento de Hobbes deve ser sempre historicamente situada, e até hoje não há consenso entre os especialistas se Hobbes era um herege ou um cristão heterodoxo.
Pessoalmente, acho que ele herege mesmo.
O que interessa no programa de TV preferido do Sufrágio, porém, é a inspiração do nome KINGDOM OF DARKNESS na natureza essencialmente mental do cenário, seja pela referência aos vazios trazidos pela ignorância, seja pela tensão gerada pelo uso excessivo da mente.

As principais personagens do programa de TV KINGDOM OF DARKNESS são o casal sem filhos Predator of the Psyche ("Predador da Psique") e Sophisticated Pleasures of the Artificial Needs ("Prazeres Sofisticados das Necessidades Artificiais"), cujo animal de estimação é um hipopótamo anão chamado Behemoth, The Evil Loaf of Bread ("Behemoth, O Pãozinho do Mal").

Predator of the Psyche deve seu nome à obra Mulheres que Correm com os Lobos de Clarissa Pinkola Estés (Capítulo II: A Tocaia ao Intruso: O Princípio da Iniciação, sobre a fábula do Barba Azul).

Sophisticated Pleasures of the Artificial Needs tem seu nome inspirado no Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens de Jean-Jacques Rousseau:

"A extrema desigualdade na maneira de viver, o excesso de ociosidade de uns, o excesso de trabalho de outros, a facilidade de irritar e satisfazer nossos apetites e nossa sensualidade, os alimentos muito requintados dos ricos, que os nutrem com sucos excitantes e os afligem com indigestões, a má nutrição dos pobres, que chega muitas vezes a faltar-lhes,obrigando-os a sobrecarregar avidamente o estômago quando podem, as vigílias, os excessos de toda espécie, os transportes imoderados de todas as paixões, as fadigas e o esgotamento de espírito, os pesares
e as penas sem número que se experimentam em todos os estados e que perpetuamente arruinam as almas: eis os funestos fiadores de que a maior parte dos nossos males são nossa própria obra..."

- Jean-Jacques Rousseau
"Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens"

O nome do hipopótamo anão Behemoth, the Evil Loaf of Bread, é inspirado na figura bíblica do Livro de Jó utilizada por Hobbes principalmente - mas não apenas - para descrever o período de guerras civis na Inglaterra de sua época em Behemoth ou o Longo Parlamento.


A trilha sonora de abertura do programa é a música "Cult of Personality", da banda Living Colour, que critica atitudes de veneração e cujo vídeo oficial apresenta o uso de meios de comunicação de massa para teleguiar indivíduos e diluí-los em multidões anônimas.

Cult of Personality
Living Colour

“And during the few moments that we have left, we want to talk, right down to
earth, in a language that everybody here can easily understand.”
Malcolm X

Look in my eyes, what do you see?
the Cult of Personality
I know your anger, I know your dreams
I've been everything you wanna be ohhh…
I'm the Cult of Personality
Like Mussolini and Kennedy
I'm the Cult of Personality
The Cult of Personality
The Cult of Personality

Neon lights, Nobel Prize
When a mirror speaks, the reflection lies
You won't have to follow me
Only you can set me free

I sell the things you need to be
I'm the smiling face of your T.V. ohh…
I'm the Cult of Personality
I exploit you; still you love me
I tell you one and one makes three ohh…
I'm the Cult of Personality
Like Joseph Stalin and Gandhi ohh…
I'm the Cult of Personality
The Cult of Personality
The Cult of Personality

Neon lights, Nobel Prize
When a leader speaks, that leader dies
You won't have to follow me
Only you can set you free

You gave me fortune, you gave me fame
You gave me power in your God's name
I'm every person you need to be ohh…
I'm, the, Cult, of, Per, Son, Al, Ity

I am the Cult of (x8)
Personality

“Ask not what your country can do for you…” (John F. Kennedy)
“The only thing we have to fear, is fear itself.” (Franklin D. Roosevelt)

OBS: Agradeço a assessoria jurídica do meu amigo Alexandre na construção deste post :-)

5 comentários:

Clarafiesta disse...

Supercalifragilistic!
Você é o máximo!

Anônimo disse...

Impressionante como a leitura do blog fez referência aos "meus vazios trazidos pela ignorância" e me deu vontade de poder provar "just a small slice of that evil loaf of bread".
Que "The Realm of Darkness" se ilumine em breve!

Anônimo disse...

Genial. Super fã!

Pheu(offline)

Paola Ranova disse...

Legal, Mamawee, @Anônimo e Pheu, obrigada pelo carinho! Quanto à ignorância, acho que pelo menos para Hobbes, o Reino das Trevas tem mais a ver com uma postura bitolada, de fé cega que as pessoas tinham na Igreja Católica que vendia indulgências e as incentivava a acreditar nas coisas mais ridículas do mundo, ou no caso de alguns grupos protestantes, na literalidade de interpretação da Bíblia. Acho que é mais isso do que a possível ausência de conhecimentos propriamente ditos :-)

Paola Ranova disse...

@Anônimo, a slice of the evil loaf of bread would probably make you do out of ordinary things ;-) rsrsrs!