sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Família Institucional e seu Círculo Social

Estou morrendo de saudade desse blog. Semana que vem vou postar tiras de novo, finalmente. Só preciso me organizar para escanear e dar um ar mínimo de civilidade aos desenhos rascunhados e meio amassados. Várias tiras tem personagens extrafamiliares que dão um tom mais leve às discussões políticas dos quadrinhos. Eles são, em minha opinião, os mais divertidos.

Enquanto a Família Institucional é predominantemente racional e ter apenas atributos humanos, o círculo social de amigos é surreal e boa parte deles tem poderes mágicos. Esses amigos aparecerão nas tiras que vou postar a partir da semana que vem, mas como ainda não as escaneei devidamente, posto agora algumas características:

BURÓCRA
Cozinha e cuida da casa da família institucional. Sente-se, e é, indispensável, embora passe o dia inteiro reclamando da vida.
MALAWI Amigo da Radica, por quem ela é apaixonada, é um menino negro de origem Banto que mora com a família em Brasília e adora esportes radicais e todos os tipos de tecnologias, que não se restringem a computadores, mas incluem o que ele chama de tecnologias da alma e tecnologias espirituais.
JADELUA, ANARCOLOVE E SURFONLINE
Amigos da Radica, têm todos a mesma idade e se amam profundamente, mas estão sempre discutindo.

ENCRENCÃO E FONSECÃO
Amigos adolescentes do Massas, com quem ele montou um powertrio. Só pensam em música, vídeos, comida e mulheres, e principalmente, em serem maiores de idade para beberem legalmente.

MAIÊUTICA SOPHIA
Amiga da Radica, tem 17 anos, origem indígena e gosta de escutar aquarock. Dedica-se ao seu mundo interior pesquisando questões da alma e testando posturas e desenhos de divindades em seu próprio corpo, passando a maior parte do seu tempo fazendo posições de yoga, esculturas corporais e desenhando tatuagens. Adora perguntas desconcertantes, principalmente direcionadas a desconhecidos.

DELIRIUS ACADEMICUS
Amigo do Quadros, ninguém sabe sua idade ao certo, mas tem mais de 40 anos e toda vez que vai se formar na UnB, faz vestibular de novo para não sair de lá. Em geral não consegue se comunicar muito bem, e tende a não responder diretamente o que lhe perguntam.

SANTA PACIÊNCIA
Amiga da Dona Consta, com quem ela realiza a cerimônia do chá em silêncio toda semana.

MESTRE ZEN
Amigo do Vô Tório e marido da Santa Paciência.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Fazer ou não fazer som, eis a questão





Apesar do protagonismo dos políticos nas estruturas representativas e da raiva que muita gente tem de política em geral, essa historinha foi feita originalmente para discutir a relação entre democracia e o uso da palavra, ou seja, a associação entre democracia e logocracia (formato político no qual os que detém mais poder são aqueles de dominam o conhecimento racional, a retórica e a palavra, e o transmitem por meio de uma linguagem clara). E também para discutir o quanto a estrutura eleitoral periódica de quatro em quatro anos, tão usada para designar democracias contemporâneas, pouco tem a ver com a essência do que seria, em tese, uma sociedade democrática no sentido antigo ou no sentido radical, onde o debate e a participação direta em questões civis devem protagonizar a vida pública.

Pães e Cães No. 1






Para pensar em partidos, alianças e crises políticas.

Sufrágio Universal



Originalmente, esses quadrinhos iam se chamar Sufrágio Universal e sua Família Institucional, mas era um nome grande demais. O Sufrágio Universal foi um dos primeiros personagens de quadrinhos que surgiram quando eu cursava o primeiro semestre de graduação em Ciência Política na UnB (antes outra personagem, Maiêutica Sophia já tinha aparecido na minha cabeça, ainda no segundo grau, e ela hoje faz parte do círculo social da família como amiga da Radica).

Sufrágio Universal é um menino calado e calmo, de 4 anos, fofo como o Vô Tório. Ele é esperto e inteligente, mas só fala de quatro em quatro dias. No restante do tempo, fica quieto vivendo sua vida, talvez porque tenha coisas mais interessantes para fazer do que ficar em função das demandas da família. Ele adora televisão e gosta de brincar com sua gata de estimação, Maioria Substantiva, que é toda malhada de várias cores, tem comportamento imprevisível e entra no cio todas as terças, quartas e quintas-feiras (que são os dias em que o Congresso Nacional tende a funcionar deliberativamente). Esta gata tem filhotes com muita frequência e todos têm o mesmo nome acrescido de uma número, Decisão no. tal, e o sobrenome de cada decisão/ filhote de gata é o número correpondente à sua ordem de nascimento, simbolizando o furor legislativo no Brasil e a responsabilidade formal da população por seus políticos (ver concepções sobre representação neste sentido em Hanna Pitkin). Além disso, a ideia de sufrágio universal como uma instituição que pode incentivar a população a se resignar à participação mínima está presente como crítica no pensamento de John Stuart Mill e explicitamente, como constatação de algo inevitável, na concepção elitista de democracia concorrencial em Joseph Schumpeter.

Sufrágio e Maioria são sempre seguidos por Marketing Político, um cachorro louco com olhos esbugalhados em forma de espiral hipnótico, que adotou o Sufrágio como dono e é eroticamente atraído pela Maioria. Marketing Político quer fazer filhotes em Maioria o tempo todo, esteja ela no cio ou não. Sem entender que são bichos de espécies diferentes, Marketing passa a vida tentando cruzar com a gata obcessivamente.

Radica



Quando estava desenhando a família institucional, a Radica se chamava originalmente Democracia Direta e Radical (está assim no desenho da genealogia da família), mas como a democracia direta antecede todas as instituições vivas da família, inclusive os próprios pais da Radica, o "Direta" fica só na certidão de nascimento, em homenagem a sua avó materna, Democracia Ateniense (e mesmo assim a idéia de democracia radical não se restringe ao âmbito instrumental de democracia direta, assembleísta, onde todos os participantes que serão afetados pelas decisões públicas são também os próprios tomadores de decisões).

A idéia contemporânea de democracia radical diz respeito principalmente à inclusão, à convivência e à expressão da diversidade e das diferenças de sociedades ocidentais modernas no mundo político. Essa idéia, em meu ponto de vista, revoluciona muito a vida pública, e inclusive o próprio conceito de política (ver Chantal Mouffe e Ernesto Laclau).

Quando desenhei a Radica e o Sufrágio, a questão das idades me agoniou um pouco, pois a idéia de sufrágio universal historicamente surge bem antes da democracia radical contemporânea que a Radica expressa, mas no final preferi priorizar o tema em detrimento da história nessa questão específica. Fazer um paralelo entre a idade do Sufrágio e a periodicidade das eleições no Brasil era mais importante, e além disso, seria bom que a Radica tivesse uma idade que permitisse um mundo interior relativamente mais independente de crianças de 10 anos. Nessas horas percebemos que, no mundo da imaginação, o rigor histórico pode acabar engessando a criação, e preferi permitir um pouco de flexibilidade às exigências que eu mesma criei (afinal, toda a família insitutucional tem inspiração teórica, quase na forma de tipos ideais ilustrados , mas obviamente não são literais e jamais poderiam substituir estudos acadêmicos, conceitos e teorias de fato e nem estudos sistemáticos, pois este não é um trabalho científico - é apenas uma forma de reflexão sobre política e humanidades em geral pela via dos desenhos).

Sobre a personagem, a Radica é muito livre, fala o que pensa, só anda descalça, de skate ou patins, e tem opiniões e vontades firmes - às vezes até demais. O que mais caracteriza sua personalidade é uma obsessão por questionamentos. Ela não lida bem com hierarquia e, pré-adolescente, contesta a mãe e o pai o tempo todo, mas de um jeito ingênuo e ainda infantil. Está sempre pronta para desafiar os irmãos mais velhos, com quem geralmente briga (seu irmão Quadros inclusive se refere a ela como "Autoengano") , e não esconde que tem mais carinho pelo Sufrágio. Tem cabelos ruivos enormes, esvoaçantes e cacheados. Embora esses quadrinhos ainda não tenham cor, os cabelos da Radica são laranja-fogo, representado o fogo do cerrado que renova as plantas (mas não é o fogo criminoso destrutivo às vezes vivenciamos por aqui). Além disso, esse tipo de cabelo é uma homenagem a Boudicca, rainha celta que sempre me impressionou desde a infância, e cuja vida e valores tribais afirmaram o poder feminino que foi praticamente destruído pela expansão do Império Romano. Embora não seja uma rainha ibérica ou africana ou indígena, as raízes de Portugal também tem origem celta (ver Raymundo Faoro). Assim, a história da Boudicca também aparece na Radica, mostrando a afirmação de uma minoria feminina em cenários políticos de hegemonia institucional masculina.

Por fim, Radica gosta de esportes radicais, é secretamente apaixonada por Malawi, um menino africano, e tem um casal de calangos de estimação, Palavrinha e Palavrão, que às vezes descansam em seus ombros. Esses nomes dos calangos reforçam o poder das palavras nas democracias e seu uso como instrumento político, e tematizam estereótipos de gênero.

Aniversário de Brasília: personagens preferidos e Mamawee

Hoje é dia 21 de abril de 2010, dia em que Brasília faz cinquenta anos.

Então em homenagem a Brasília posto meus dois institucionais preferidos, os mais novinhos: Radica e Sufrágio. Eles são publicados hoje junto às duas primeiras tiras. Embora tudo que está aqui por enquanto tenha sido finalizado em janeiro de 2005, escolhi uma historinha da Radica e do Sufrágio que tem a ver com o que Brasília tem de essencial, e outra do Massas e do Quadros que pode ser associada à nossa atual crise política do GDF-Arruda.

Mas hoje, principalmente, não posso deixar de homenagear meus pais aqui no blog, pois minha mãe veio para BSB em 1959, e cresceu junto com a cidade, e meu pai veio para cursar Medicina em 1965 na I turma da UnB, quando o DF ainda era só um quadradinho de poeira vermelha com árvores lindas e tortas no meio do nada. Minha mãe me ajuda desde o começo com este blog e sem o incentivo dos dois ele não estaria online :*

Vamos em frente então, e parabéns Brasília <3!!!

Paola.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Massas



Partido de Massas, ou Massas, nasceu minutos depois de Quadros e em muitos aspectos é o oposto do irmão gêmeo, embora tenha o mesmo gênio da onipotência.

Os partidos de massas, na perspectiva de Duverger, surgem com a ampliação da participação eleitoral e nascem fora do parlamento, embora tenham como objetivo a eleição aos cargos legislativos, buscando espaço de expressão na sociedade pela via eleitoral. Os partidos de massas têm em geral uma essência socialista, e além de buscarem representar as classes excluídas, têm o objetivo de ser fonte de identidade para o maior número possível de pessoas e grupos da base eleitoral, o que apresenta um dilema, pois o fortalecimento dos partidos de massas pode tanto distanciá-los de suas identidades originais de classe trabalhadora, quanto aproximá-los de uma ideia diluída de massas indiscriminadas (ver Adam Przeworski).

Neste sentido, os partidos de massas são acusados de gradualmente tornarem-se tão elitistas quanto os partidos de quadros, e voltarem-se cada vez mais para a busca do poder do estado e para as questões eleitorais, perdendo o vínculo com a base popular e principalmente o ideal de superar as diferenças sociais em nome de uma manutenção de seus quadros ;-) no poder (para uma reflexão sobre elitização de partidos de massas, ver lei de ferro das oligarquias elaborada por Robert Michels, em Sociologia dos Partidos Políticos).

Nesse sentido, embora tenham origens históricas diferentes, partidos de massas e partidos de quadros buscam igualmente o poder do estado (na família institucional, representado pela figura do pai deles, Seu Nácio) e disputam igualmente a representação política (a mãe deles, Dona Represa). Assim, além dos gêmeos tematizarem a ideia contemporânea de que partidos buscam ocupar o lugar do Estado, também trazem um conteúdo edipiano

Como personagem nesse blog, assim como seu irmão Quadros, Massas também adora comer, mas diferente do irmão solitário, só anda em bandos. Ele tem dois amigos que o visitam frequentemente - Encrencão e Fonsecão, que gostam de aparecer na casa dos institucionais principalmente em horários de refeições.

Por fim, Massas adora shows e shoppings, tem várias namoradas ao mesmo tempo e vive se metendo em confusões para gerenciá-las, sem que uma saiba da existência da outra. Usa blusas com nomes de bandas, frases de efeito ou gritos de platéia, e adora videogames e esportes coletivos.

domingo, 18 de abril de 2010

Quadros


Partido de Quadros é o primeiro filho de Represa e Nácio, e nasceu um pouco antes de seu irmão gêmeo, Partido de Massas. Esses nomes vêm da nomenclatura de Maurice Duverger , um autor clássico da teoria política sobre partidos. Embora muitos especialistas considerem a diferença entre partidos de massas e partido de quadros ultrapassada, a contribuição destas categorias para a análise política foi importante como referência na literatura.

Assim, a abordagem que caracteriza os partidos principalmente pela idéia de controle está presente na psique dos gêmeos, mesmo sendo bivitelinos e bem diferentes em vários aspectos.

Em uma explicação breve, historicamente pode-se chamar de "partidos de quadros" os primeiros partidos políticos, formados dentro dos parlamentos quando alguma questão dividia o grupo decisório (originam-se, portanto, dentro de uma elite política previamente selecionada pelo sistema eleitoral representativo). A idéia de partido, inclusive, era considerada pejorativa por alguns autores do século XVIII, como algo que "parte", "divide" e "fragmenta" o parlamento, uma espécie de perigo para a unidade de nações européias recém-formadas, e só aos poucos, com a ampliação do sufrágio, passam a ser vistos como expressão da diversidade opinativa de grupos sociais sem ferir a unidade nacional.

No que se refere aos gêmeos institucionais desta família, Quadros e Massas são adolescentes de 13 anos de idade, e o Quadros expressa a pretensa onipotência da adolescência pela via intelectual. É completamente desconectado do próprio corpo, a não ser quando come. Quadros nunca fala tudo o que pensa ou sente, e em geral seus pensamentos e sentimentos desprezam o interlocutor. Ele encarna um típico elitismo aristocrático tradicional e se veste mais ou menos como crianças com posses de países ocidentais se vestiam na década de 1950, quando o livro Os Partidos Políticos do Duverger foi lançado (1951).

sábado, 17 de abril de 2010

Dona Represa



Democracia Representativa, ou Dona Represa, é provavelmente a personagem mais triste da família institucional. Prioriza sempre os outros antes de si e é uma tentativa de retratar a condição de muitas mulheres da cultura ocidental pós-revolução feminista, que ou abrem mão de constituir uma família, ou acumulam papéis de tradicional mulher submissa ao casamento e às estruturas familiares, e moderna profissinal independente, não de maneira integrada, mas sim na forma de conflito, onde o comportamento é um, mas muitas vezes a vontade é outra.
No que tange à dimensão privada, esse tipo de vida da Represa, quando encarado de forma pendular, é sempre um potencial curto-circuito, principalmente do ponto de vista emocional. Em alguns casos, essas mulheres se tornam autoritárias, mas isso não acontece com a Represa. Ela tem a garganta e o coração aprisionados, como mostra a roupa que usa, representando uma jaula de ferro de instituições racionais-legais.

Essa personagem também retrata uma obsessão com imagem e aparência, tão presentes na cultura urbana de vários países tocados pela cultura ocidental, e tão típica da representação política ancorada na mídia dos dias de hoje. Não que a beleza exterior do corpo e dos ambientes não deva ser cultivada dentro dos limites da razoabilidade, mas Dona Represa representa a possibilidade de se tornar uma mulher com "beleza inabitada", a tristeza de ser mulher e sentir-se vazia por não ter tempo de cuidar de seu mundo interno ao viver em função da aparência, das demandas de 4 filhos e de um marido exigente, em uma cultura que prioriza a independência de indivíduos no mercado de trabalho e que muitas vezes tende ignorar o mundo interno das pessoas, substituindo-o por Prozac e Rivotril.

Por ser obrigada a gerenciar a convivência de muitas pessoas ao mesmo tempo, mantendo-se firme, Represa às vezes se sente um veículo em função das intenções dos outros, e constantemente seu corpo treme e seus cabelos se arrepiam, sinalizando que está prestes a explodir, embora seus valores, no fundo, não sejam selvagens, livres ou revolucionários, e sim bastante assépticos, ordenados e conservadores.

OBS: Quando comecei a desenhar a Dona Represa, eu estava impressionada com as personagens femininas no filme The Stepford Wives, filmado em 1975, e posteriormente em 2004.

Seu Nácio




Seu Nácio, ou Estado Soberano Nacional, é o "típico pai de família" de classe média da família institucional. Machista e protetor, encarna as relações de mando e obediência da vida política e da vida privada. Tem a mente hierárquica e é bem conservador, além de neurótico com segurança e alimentação. Seu Nácio tenta sempre passar um ar de paz e tranqüilidade, mas nunca consegue pois sempre tem o semblante desconfiado e alerta, e diante de qualquer novidade ou improviso, perde a cabeça e parte para o ataque.

Seu apelido é uma alusão a Inácio de Loiola, principalmente pela presença dos jesuítas no Brasil defendendo ideias de disciplina, hierarquia e combate aos "inimigos" e à diversidade. Além disso, também retrata concepções hobbesianas e weberianas de estado, tematizando o surgimento e a consolidação da política moderna.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Vó Só




Magna Soberania Nacional, ou Vó Só, é criativa, ativa, meio mandona (e com a firmeza de que ninguém manda nela) e a favor de todos os tipos de independência. Além disso, é muito carinhosa, porém ciumenta, e totalmente apaixonada pelo marido, Vô Tório. A Vó Só dedica-se à crença em espíritos que protegem a família institucional, chamados leis e ordens, e gosta de pintar os cabelos com as cores do arco-íris. ela acredita que a chave da vida está na educação, definitivamente considerando esta área uma das suas missões de vida. Além disso, Vó Só gosta de brincar com crianças e é campeã mundial de capoeira.

Vô Tório



O Vô Tório, Território Nacional, ou como seu neto Massas o chama, "Budão", é o membro mais idoso da família institucional. Casou-se com a Vó Só e tiveram dois filhos: Estado Soberano Nacional (Seu Nácio) e Constituição Federal (Dona Consta, uma maestrina muda, casada com Divisão de Poderes , com quem tem filhos trigêmeos: Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário).

A imagem do Vô Tório é uma mistura de Buda da Abundância e John Lennon, pela ideia de paz interior e fartura para todos de um lado, e paz social e convivência pacífica do outro. O Vô Tório é calmo e fofinho. Em geral está sentado em posição de lótus, simplesmente "sendo", transcendendo a matéria sem negá-la, integrando-a à vida pela atividade intelectual, pelo amor e pela espiritualidade. Contudo, o que o caracteriza de fato é seu poder pessoal, e embora sua atenção seja sempre disputada por todos, seus limites são igualmente respeitados.

Genealogia Institucional



Este é um blog inspirado em reflexões sobre teoria política, constelações familiares, questões de gênero, sentimentos humanos, subjetividades e intersubjetividades em geral, e existe principalmente como material paradidático para aprendizado com diversão.
Esperei anos para conversar com algum expert em design gráfico e fazer um site elaborado, mas desisti. Preferi fazer artesanalmente, senão ia ficar enrolando, e esses quadrinhos que existem há tanto tempo nunca seriam publicados :P

Então, por enquanto eles vêm ao mundo assim, de um jeito pouco elaborado mesmo, e seja o que Deus quiser.

Como esse começo é instintivo, os quadrinhos que já existem serão escaneados e postados. Eu apenas digitalizo os desenhos que fiz à mão ao longo dos anos.

A ideia de fundo que permeia personagens e tiras parcialmente tem a ver a expressão de Carol Hanisch de que o pessoal é político, e pessoalmente, acredito que a via de mão-dupla (ou seja, algumas dimensões políticas também permeiam o pessoal) também procede. Talvez no fundo isso traga pertinência à relação entre filosofia da moral e política, à autoexpressão e à liberdade de todos os seres em cenários sociais inevitavelmente restritivos. Ampliando esta ideia, há o resgate de culturas e valores que transcendem a modernidade europeia e que buscam igualmente respeitar todos os seres, humanos e de outras naturezas, de forma mais ou menos nivelada. Este valor político de apreciação e respeito à diversidade é possivelmente o mais importante do blog. As primeiras personagens e histórias tiveram início em 1995 e foram finalizados em 2005 com auxílio e incentive de alunos de graduação em Direito do IESB. São uma tentativa de tentar "humanizar" conceitos e teorias políticas na forma de imagens e histórias, mas não só isso, pois as tiras também entram no mundo da imaginação, da emoção, das subjetividades, dos valores e da espiritualidade.

Como breve apresentação, a família institucional expressa instituições modernas no Brasil e retrata uma típica família de classe média que mora em Brasília (os cenários externos tem árvores do cerrado e calangos e coisas assim, embora, por causa da minha falta de técnica para desenhos, às vezes as árvores podem ser confundidas com vulcões em cenários paleolíticos). Todas as personagens da família são instituições políticas modernas predominantemente racionais de origem europeia, mas o círculo social de seus amigos, em contraste, é cheio de personagens mágicos ou surreais, pois Brasília não é feita só de Congresso Nacional, Presidência da República e Tribunais. E nem o ser humano só de racionalidade, como diriam Max Weber, Freud, Jung, Erasmo de Rotterdam e tantos outros.

As tiras tem também o objetivo de afirmar que em Brasília há sociedade civil e pessoas criativas que independem de instituições políticas para se expressarem - artistas, músicos, cineastas, outras profissões que nada têm a ver com política, sem esquecer que também os políticos e funcionários públicos possuem dimensões subjetivas e sentimentos importantes e não são apenas os cargos que ocupam.

O círculo social da família institucional também serve para lembrar que as instituições políticas racionais-legais, por si sós, não são necessariamente boas nem ruins, e podem ser apenas um caminho percorrido por determinadas culturas, e boa parte do que este caminho expressa é o que fazemos dele. E é para pensar sobre este caminho (dentre tantos possíveis), além de outras questões humanas, que esse blog existe.

Então, aqui está a imagem da primeira versão da família institucional, para marcar a origem das divulgações disso tudo em 2005. Vou postar personagens individualmente, com as devidas "histórias de vida", em desenhos maiores, pois assim fica mais fácil visualizá-los.

Espero que se divirtam! :-)

Beijos a todos,

Paola.


Nota aos críticos, puristas estéticos e mal-humorados de plantão em geral

Eu não sou desenhista e nunca fiz curso de desenho na vida. Na verdade, fiz um curso rápido que durou um mês, com uma professora muito legal, quando eu tinha 21 anos, mas era giz pastel e não tinha nada a ver com quadrinhos. Deste curso resultou o desenho de uma africana que gosto muito, e só. Mas como adoro desenhar, prometo principalmente para mim mesma que algum dia vou fazer um curso de desenho. Outra coisa - adoro cores, e quando tiver o site mais profissional, quem sabe com o tempo insiro cores nas histórias. Por enquanto, porém, os quadrinhos vêm ao mundo em preto-e-branco, com mínimos recursos básicos, e vamos ver no que dá ;-)

Mais beijos e boa diversão,

Paola.